domingo, 11 de outubro de 2009

Autárquicas manchadas de sangue

Não sei o que é mais perturbador, se o assassinato hoje do marido da Presidente da Junta de Freguesia de Ermelo, Distrito de Vila Real, Glória Nunes, numa assembleia de voto de Fervença, se o facto de eu não me admirar que coisas destas aconteçam.
Se parece haver uma ideia generalizada de uma certa aversão à "classe política" a nível nacional, essa ideia aparece difusa, sem um rosto-alvo, ou porque quem está no poder não pode agir de outro modo por razões conjunturais, ou porque tem directivas da União Europeia a cumprir.
A nível local, os ódios são diferentes, são concretos, têm rosto, são ódios de pessoa a pessoa, pessoas que se conhecem melhor umas às outras e, por isso mesmo, as melhores ideias políticas para a localidade não são importantes mas sim as empatias ou os ódios pessoais.
A nível ainda mais micro, que é a gestão de um condomínio, já tive a experiência de me pedirem para aceitar a administração em anos em que não me competia (cabia-me de 10 em 10 anos), ou porque havia obras a fazer que implicavam quotas extraordinárias, ou porque havia assuntos delicados a tratar, designadamente em Tribunal, e, segundo os outros condóminos, eu era a única pessoa com experiência do cargo que não tinha relações cortadas com ninguém. Então, nesses anos, passei horas em reuniões com uns e outros, em mediação contínua de conflitos pessoais, e tive oportunidade de ver nos olhos e nas palavras de uns e outros esse tal ódio que se encontra em pessoas mesquinhas, e que é totalmente incompreensível. Também aí, e face ao exposto, só faltou que alguém tivesse perdido a cabeça como hoje aconteceu ao candidato António Cunha. Depois da minha tarefa concluída, houve ainda um que me disse: "depois do trabalho que a senhora fez, todos os que vierem a seguir na gestão do condomínio vão parecer incompetentes". Dadas as circunstâncias, nem vi nisto um elogio, e quanto aos que viessem a seguir seriam sempre incompetentes ao nível das relações humanas civilizadas.

4 comentários:

vbm disse...

Nada é mais deprimente
do que a mesquinhez
do próximo!

Quase impossível,
'amá-lo' como a 'nós mesmos'.

Só a externalidade
de alguma desgraça, súbita,
comum a justos e a invejosos,
pode liquefazer enquistamentos
de relação e, abrir caminho
a uma nova política
de vizinhança.

Maria Josefa Paias disse...

É verdade vbm. A não ser quando a memória é curta e aquilo que parecia uma lição a ter em conta depressa é esquecida. Ou quando se é tão "cabeça dura" que nem se vê o acontecimento como lição.
Um abraço.

Ana Paula Sena disse...

Também eu tenho a experiência desse tipo de relações estabelecidas entre condóminos. E não é muito agradável.
Mas não fui tão empreendedora como a Josefa, já que entreguei a tarefa a uma Loja de Condomínio. Depois, arrependi-me. Enfim...

A mesquinhez de espírito não só me dá cabo dos nervos, como me desilude. Afinal, são situações como esta (tão lamentável e triste) que me fazem ver a importância de saber manter o sangue-frio, apesar de provocações e "vistas curtas".

Acho importante reflectir sobre este acontecimento sintomático do ainda necessário amadurecimento do espírito democrático.

Obrigada e um beijinho.

Maria Josefa Paias disse...

O que quer dizer, Ana Paula, que há muito a aprender sobre civilidade, cidadania, consciência dos direitos e deveres para uma melhor relação diária entre todos, sejam quais forem as suas funções e, muito especialmente, a quem se propõe concorrer a um cargo político.
Beijinho.