terça-feira, 13 de abril de 2010

Aristóteles - Da dignidade e do respeito por si mesmo nas relações sociais


«A seriedade e o respeito por si mesmo ocupam o meio-termo entre a arrogância, que apenas parece satisfeita consigo mesma, e a complacência, que indiferentemente se aproxima de toda a gente. A seriedade aplica-se às relações sociais. O arrogante evita o mais possível o contacto com as pessoas e desdenha falar com os demais. O próprio nome que se lhe dá em grego parece que vem da sua maneira de ser. O arrogante é, de certo modo, autoades (1), quer dizer, contente consigo mesmo, e chama-se-lhe assim porque gosta muito de si mesmo. O complacente é o que se acomoda a todo o género de pessoas, em todo o tipo de relações e em todas as circunstâncias. Nenhum destes caracteres é digno de elogio. Mas o homem que se apresenta digno e sério é merecedor de estima, porque ocupa o meio-termo entre estes dois extremos; não se aproxima de toda a gente e apenas procura os que são dignos do seu convívio. Nem foge de toda a gente, mas sim apenas daqueles que bem merecem que se fuja de encetar relações com eles.»
(1)  Voz grega composta por duas palavras que significam: «o que se compraz consigo mesmo»
de La Gran Moral, Capítulo XXVI
(tradução minha)

11 comentários:

Manuela Freitas disse...

Olá Josefa,
Esta transcrição fez-me pensar!...
Bj,
Manuela

Rudolfo Wolf disse...

Olá Josefa,

Boa tarde que a chuva tamborilando nas vidraças e gorgulhando pela valetas também é bonita de se gozar.

Tenho mesmo pena do pouco tempo que me sobra para cidadaniar neste seu espaço sempre cheio de interesse e, sem desprimor e apelando para que não entenda como abuso falar de outrém, igualmente no da Srª. Manuel Araújo em que tenho deixado passar ideias que mereceriam não só o nosso apoio como, apesar de modestas, as nossas palavras também. Mas são as contingências da vida e, quando não temos alternativa, temos que nos sujeitar a elas e com alegria, de preferência.

Enfim, coisas com que a Josefa não terá a ver, claro, ao contrário do que significam as palavras deste texto que na sua vetusta idade permanece novo e, pelo menos por enquanto, aplicável nos dias que são os nossos.
Infelizmente vivemos tempos em que parece que a humildade perdeu o valor de virtude para ser vista como sinínimo de menoridade. Daí a arrogância ser tão corrente. Mas a verdade é que o dia a dia seria muito mais bonito e seguramente enriquecedor sem ela, pois só na humildade podemos abrir o coração e a mente para aprendermos, sempre, no mínimo na procura de sermos melhores hoje que ontem. Mais uma lição de todos os tempos que a Josefa nos proporciona, já estamos habituados a isso, mas nunca será em excesso o agradecimento.

E agora peço que me permita apresentar-lhe uma questão e um convite que nada têm a ver com o que acabamos de dizer.

Parece que estas visitas me querem colar à blogosfera. A verdade é que apesar da minha reduzida disponibilidade, recebi uma proposta para participar num blogue e aceitei. É claro que a preparação dessa colaboração, como já se verificou, me diminuirá as possibilidades de frequentar esta sua casa, mas ainda assim aqui virei, pois vale a pena o esforço nesse sentido. Seja como for, teria todo o gosto que a Josefa, dentro do que lhe é humanamente possível, como é bom de ver, acompanhasse o texto que irei publicar nesse blogue. O título, para que o possa identificar, é "HÁ PINTASSILGOS NO MEU QUINTAL" e sairá, ao ritmo de um post por semana, em fascículos que naturalmente numerarei sob o título geral que se repetirá ao longo de toda a publicação.
Eu sei que é um tanto descarado um pedido destes, pois não me é difícil imaginar o quanto a Senhora viverá ocupada com os múltiplos afazeres da vida ao que acresce este seu meritório trabalho de cidadania, mas a verdade é que ficaria muitíssimo agradecido se me concedesse uma tal gentileza, pois -e não me tome por falta de educação o que vou dizer- gostaria de lhe fazer algumas perguntas a respeito daquele meu trabalho. Se por acaso encontrar uns momentinhos para ir dando conta deste meu pedido, a minha gratidão teria que ser infinita, mas desde já digo que compreendo se tal não lhe for possível. Mas insisto, mesmo arriscando-me a que me dê por mal educado, no quanto me interessaria ouvir as suas ideias sobre aquele assunto.

Bem, não a empato mais e desde já me penitencio por estar a ocupar este seu espaço com coisas que apenas são do meu interesse. Rogo-lhe para que não me leve a mal por isso.

Deixo os votos de paz, muita e saúde, para si

Rudolfo Wolf

Ana Paula Sena disse...

A sabedoria elevada ao seu ponto máximo.

Trata-se de um tema que considero imensamente importante. Por um lado, é-me difícil digerir a arrogância, por outro, parece-me terrível que se perca tempo no convívio com aqueles que não o merecem. Há sempre necessidade de uma selecção, pois, infelizmente, há aqueles que não se encontram de acordo com os critérios que cada um deve definir no interior da sua consciência ética, de forma a serem dignos do nosso convívio.

Quanto aos critérios, quais os adequados e quais os desadequados... bom, trata-se de uma longa história :) Mas, lá está, é filosofia!

Muito obrigada pelo excelente texto, Josefa.

Um beijinho grande.

Maria Josefa Paias disse...

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Rudolfo,

Começo por responder ao seu comentário, desejando-lhe muito sucesso para os seus textos. Não prometo visitas assíduas porque não me comprometo com o que não tenho a certeza de poder cumprir.

Aliás, estas minhas duas amigas, Manuela Freitas e Ana Paula, sabem bem o que são as minhas visitas a correr, ultimamente quase sem comentários ao que escrevem, o que as poderia levar a deixarem de visitar os meus blogues, mas não o fazem porque são verdadeiras aristotélicas, tanto quanto à ética de Aristóteles, como quanto ao significado que encerra o próprio nome do filósofo, ou seja, por um lado, não são vingativas nem mesquinhas (poderiam muito bem dizer: já que a Josefa não comenta nada nosso, nós fazemos o mesmo), mas são compreensivas e generosas e, por outro lado, são "aristos", quer dizer, "as melhores", e também, "oi aristoi", que quer dizer "as primeiras cidadãs".

São poucas? Mas a qualidade e a quantidade nem sempre andam de mãos dadas, e eu prefiro a primeira:))

Obrigada e tudo de bom para si.

Maria Josefa Paias disse...

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Olá Manuela,

Chegou a alguma conclusão útil para as suas escolhas, através deste texto de Aristóteles?

Obrigada e beijinho:))

Maria Josefa Paias disse...

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Olá Ana Paula,

Como seria de esperar de si, expôs muito bem o que aqui está em causa. E depende do grau de exigência ética de cada um, adoptar uma das três atitudes, expostas no texto, face aos outros, ou seja, e em primeiro lugar, depende dos próprios critérios de exigência que escolhemos para a nossa própria conduta, porque só assim seremos coerentes entre o que somos e o que exigimos dos outros. (Isto fez-me lembrar um poema de F.Pessoa/ Ricardo Reis que a Ana Paula também comentou no Direito e Avesso, e que não me lembro agora se foi o "Põe quanto és no mínimo que fazes" ou outro).

Obrigada e um beijinho:))

Manuela Freitas disse...

Olá Josefa,
Evidentemente que cheguei de imediato a uma conclusão, tenho uma «casa com muito ruído»!...Os outros é que me podem considerar isto ou aquilo, eu penso que nunca fui arrogante, mas era mais selectiva, não tinha paciência para certas coisas, a idade provocou em mim uma certa complacência, mas...há demasiado «ruído em minha casa», é uma realidade.
Tomei a sabedoria de Aristóteles para causa própria!...
Bj,
Manuela

Ana Paula Sena disse...

Josefa: um grande abraço!

...sinto-me feliz por nos considerar "aristos". Na certeza, porém, de que a Josefa o é também :)) E sublinho isto.

Anónimo disse...

Cara Josefa:

Ao ler o fragmento do texto do Aristóteles, pNão sei se o arrogante gosta de si mesmo... ou se gosta de “parecer ser poderoso”. Se gosto de mim, posso expor minhas fragilidades e humildades. Até porque se amo a mim, posso mostrar o que sou ao outro. Tenho a esperança, neste caso, de o outro também gostar de mim. Porém, o arrogante, ao contrário, não quer que alguém tenha acesso ao que ele é. Ou apenas expõe parcelas de si (nunca suas impotências) na esperança de obter respeito. Para o arrogante, ter poder (qualquer que seja) é muito importante. Afinal, somente quem é poderoso, pode constranger o outro a saber apenas o que o arrogante quer informar de si mesmo. Neste caso, acredita que quem está a sua volta vai suportar sua arrogância; ele pensa que o outro precisa dele. Caso contrário, o outro iria embora.ensei:

Maria Josefa Paias disse...

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Manuela e Ana Paula, obrigada por voltarem aqui, minhas amigas de carácter "aristocrático":))

Manuela, esse "ruído no blogue" não tem grande importância, precisamente porque é um blogue e não espelha nem é modelo para a seriedade nas relações sociais a que Aristóteles se refere.

Beijinhos.

Maria Josefa Paias disse...

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Amílcar,

Lendo e relendo o seu comentário, não encontro qualquer contradição séria com o que Aristóteles defende.
O Amílcar introduziu outros elementos, como o amor a si mesmo e o poder, enquanto Aristóteles fala de respeito por si mesmo, de dignidade e de seriedade nas relações sociais. Sabemos como o narcisismo, que é outro modo de falar do amor a si mesmo, e só a si mesmo, distancia essas pessoas das restantes, do mesmo modo que o "arrogante" segundo a definição de Aristóteles. Daí que na sua Ética a sua escolha recaia sempre sobre o meio-termo quanto às diversas atitudes e comportamentos que serão mais adequados a cada um.

Um abraço e bom Domingo.