segunda-feira, 19 de abril de 2010

Divagações sob as cinzas do vulcão


Nos céus da Alemanha e de França já voam aviões, sem passageiros, para testarem os reais efeitos nos seus motores das cinzas vulcânicas expelidas pelo vulcão Eyjafjallajökull na Islândia. Um negócio de muitos milhões de euros por dia não pode ficar assim à mercê de qualquer vulcão que resolva dar sinal de vida, pensarão algumas cabecinhas. Como vulcões há muitos, e também na Europa, a pergunta que se deve fazer com pertinência nesta era da tecnologia e da nanotecnologia, é: o que é que a investigação científica na indústria aeronáutica tem feito para proteger os motores dos aviões, não só das cinzas vulcânicas mas, também, das areias arrastadas dos desertos por ventos fortes, já para não falar das aves que, tanto quanto sei, há muitos aeroportos que ainda utilizam aves de rapina para as "caçar". Isto seria suficiente para gracejar, se não colocasse em risco a vida das pessoas.
E se o vulcão Katla, vizinho do outro, que, segundo os islandeses, 3 em 4 vezes tem entrado também em actividade após o Eyjafjallajökull, e que é ainda mais nefasto, podendo impedir a circulação aérea durante meses?
Se no campo militar há já aviões "imperceptíveis" para os radares e toda uma panóplia de aplicações para os mais diversos objectivos, na aviação civil ainda nem se conseguiu a protecção face a uma ave ou a qualquer bicharoco atrevido, pois tem-se investido no tamanho cada vez maior dos aviões para transportarem mais pessoas, com maior rentabilidade portanto, e não nesses elementos de segurança para enfrentarem situações como a presente. E tenho quase a certeza que o investimento na segurança seria muito inferior aos prejuízos agora sofridos.
Vendo a situação por outro prisma, creio que ela contribui para a necessidade de se acelerar o investimento nos meios ferroviários e, em Portugal, no projecto do comboio de alta velocidade, bem como na melhoria das linhas e comboios já existentes. E aqui não se pode dizer que há conluio e interesses com A, B ou C, porque um vulcão não se deixa comprar nem vender, é incorruptível, e faz o que tem a fazer por natureza.

6 comentários:

vbm disse...

Excelente reflexão sobre a lógica das relações sócio-políticas entre a ciência, a segurança e a economia e a quase-proibição de se ser mais inteligente do que os dados estáticos de uma situação pré-catastrófica...

Manuela Araújo disse...

Olá Josefa
A natureza está a avisar que, afinal, somos bem mais pequenos do que pensamos.
A alternativa de uma boa rede ferroviária, para mercadorias e para passageiros há muito que é uma necessidade. A aposta nos tranportes rodoviários tem sido um autêntico tiro nos pés.
Quanto à alta velocidade, não sei se os gastos serão compensados, mas certezas não tenho. Parece-me, no entanto, óbvio, que a ligação Norte-Sul em alta velocidade é desnecessária e redundante. Bastava reforçar as linhas de ferrovia normal, que era muito mais barato. Mas, como disse, pouco entendo dessa matéria!
Beijinhos

Manuela Freitas disse...

Olá Josefa,
Boa análise à situação, mas eu penso que por muito que a ciência avance a natureza será sempre algo indomável e imprevisível.
Posso dizer-lhe que o transporte ferroviário é o que mais aprecio, considero de facto que devia existir uma incrementação do mesmo no nosso país. Quanto ao TGV não estou de acordo, é uma situação problemática, de grandes custos na sua implementação e depois no seu uso. Esta minha opinião não tem qualquer alinhamento político, pode ter é a nível económico e da situação nesse vector de declarações tão contraditórias.
beijinhos,
Manuela

Maria Josefa Paias disse...

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vbm (Vasco),

Muito obrigada pela sua apreciação favorável e muito generosa.

Um abraço.

Maria Josefa Paias disse...

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Olá Manuela,

Muito obrigada pelo seu comentário. Deve ter reparado que nem falei nas rodovias porque há décadas que não fazemos outra coisa, pelo que por agora já tudo está praticamente ligado a tudo através do alcatrão. Daí me parecer que se deve apostar na melhoria das ferrovias e dos comboios já existentes e no troço já contratualizado do comboio de alta velocidade, porque quando o dinheiro é pouco (aliás, no nosso caso, o País já está muito endividado), há que avaliar bem se a ligação ao Porto (e creio que à Galiza) é mesmo necessária.

Beijinho:)

Maria Josefa Paias disse...

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Olá Manuela Freitas,

Muito obrigada pelo seu comentário. As minhas referências à investigação científica têm só a ver com a segurança dos aviões face aos problemas que a Natureza lhe vai colocando, uma vez que esta, e no caso em apreço, os vulcões, só se podem estudar, e não controlar.

Quanto à melhoria das ferrovias, e como disse na resposta à Manuela Araújo, completamente de acordo.

Beijinho:)