sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A Declaração Universal dos Direitos Humanos e Bernardo Soares

Tinha pensado no texto de Bernardo Soares, que discorre sobre “o ESFORÇO que sofre os desvios que a vida lhe impõe”, aquando do Dia Internacional do Voluntariado, a 5 de Dezembro, mas por falta de disponibilidade só o assinalei no Fb através de notícias e vídeo “prontos a usar”. E se o trabalho diário dos voluntários, que, nas suas diversas vertentes, parece nunca ter fim, nem resultados mensuráveis e definitivos, quer em tempo de guerra quer em tempo de paz, porque em ambas as situações há casos de vida precária, em guerra por motivos óbvios e, em paz, por desequilíbrios económicos, por crises financeiras, intempéries, etc., e em qualquer deles se atropelam os direitos fundamentais das pessoas, nos objectivos da Declaração Universal dos Direitos do Homem (10/12/1948), em que se abordam e salvaguardam, precisamente, esses direitos fundamentais, poderemos sentir também a mesma dificuldade na avaliação de resultados a nível planetário e, quanto à sua implantação em todos os países, continua a ser um desejo. Daí que, o referido texto, continue a ser adequado para dar voz a essa espécie de impotência quando os desafios são desta natureza.

Vejamos alguns parágrafos do preâmbulo da Declaração Universal:

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;

Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do Homem conduziram a actos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do Homem;

Considerando que é essencial a protecção dos direitos do Homem através de um regime de direito, para que o Homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão; (…)

Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declararam resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla; (…)

O texto de Bernardo Soares/ Fernando Pessoa:

«TODO ESFORÇO, qualquer que seja o fim para que tenda, sofre, ao manifestar-se, os desvios que a vida lhe impõe; torna-se outro esforço, serve outros fins, consuma por vezes o mesmo contrário do que pretendera realizar. Só um baixo fim vale a pena, porque só um baixo fim se pode inteiramente efectuar. Se quero empregar meus esforços para conseguir uma fortuna, poderei em certo modo consegui-la; o fim é baixo, como todos os fins quantitativos, pessoais ou não, e é atingível e verificável. Mas como hei-de efectuar o intento de servir minha pátria, ou alargar a cultura humana, ou melhorar a humanidade? Nem posso ter a certeza dos processos nem a verificação dos fins

Bernardo Soares/ Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, p.149/50, Assírio & Alvim, (Richard Zenith), 3.ª edição, Lisboa